Em 2024, o Brasil registrou 6,5 milhões de demissões, representando uma taxa de 26,6% do total de desligamentos, o maior índice desde 2020. Esse crescimento sugere uma transformação nas práticas de contratação, gestão e desenvolvimento de talentos dentro das empresas.
Nesse cenário, cresce a busca por estratégias mais flexíveis, ágeis e econômicas para lidar com a volatilidade do mercado de trabalho. Entre elas, destaca-se o quiet hiring ou “contratação silenciosa”, fenômeno que vem ganhando espaço em empresas de diferentes setores, tanto no Brasil quanto no mundo.

O que é Quiet Hiring?
O quiet hiring é uma prática na qual as empresas, em vez de contratar novos profissionais externamente para preencher vagas, optam por redistribuir funções e responsabilidades internamente entre os colaboradores que já fazem parte do quadro de funcionários.
Esse processo, muitas vezes, não é formalizado através de processos seletivos ou comunicados públicos, e pode ocorrer de forma discreta, quase invisível, tanto para os demais funcionários quanto para o mercado. Por isso, a prática ganhou o adjetivo "quiet" (silenciosa).
Em muitos casos, a realocação envolve a atribuição de novas tarefas ou cargos que não estavam previstos inicialmente na contratação do trabalho. Assim, o profissional pode acumular responsabilidades sem, necessariamente, uma promoção ou ajuste salarial.
Essa estratégia é cada vez mais utilizada como alternativa para reduzir custos com contratação e se atentar às mudanças do mercado, como a introdução de novas tecnologias.
Como o Quiet Hiring se manifesta na prática?
O quiet hiring pode ocorrer de diversas formas, como, por exemplo:
- Promoções internas para cargos estratégicos, sem abertura de processos seletivos públicos.
- Realocação de profissionais para áreas que demandam mais apoio, mesmo sem formação ou experiência direta.
- Ampliação de funções, muitas vezes sem ajustes proporcionais de remuneração ou cargo.
- Terceirização ou automatização de atividades para liberar colaboradores para novas funções.
- Substituição interna de funções em casos de licenças médicas, afastamentos prolongados ou saídas repentinas, evitando a contratação externa.
Relação com o Quiet Quitting
Esse fenômeno está ligado a um comportamento cada vez mais discutido no mundo corporativo: o chamado quiet quitting ou "demissão silenciosa". Trata-se de uma atitude adotada por profissionais que, embora permaneçam formalmente em seus cargos, reduzem o nível de envolvimento e esforço no trabalho.
Em vez de buscar novas responsabilidades, progredir na carreira ou se engajar ativamente nos projetos da empresa, esses colaboradores limitam-se a cumprir estritamente suas funções essenciais, evitando qualquer atividade que extrapole o que está previsto em sua descrição de cargo.
Essa dinâmica cria uma tensão: de um lado, funcionários que, insatisfeitos com a falta de reconhecimento, progressão na carreira ou condições adequadas de trabalho, diminuem seu esforço ao mínimo necessário, mantendo-se na empresa até que sejam eventualmente desligados ou encontrem uma oportunidade mais alinhada às suas expectativas.
De outro lado, gestores e empresas que, buscando manter a produtividade sem elevar os custos com novas contratações, adotam práticas de quiet hiring, redistribuindo funções, terceirizando atividades e promovendo internamente colaboradores.

Quiet Hiring x Quiet Quitting: estratégias opostas, efeitos similares
Essa relação, portanto, evidencia o risco de um ciclo negativo: quanto mais as empresas apostam no quiet hiring sem oferecer o devido suporte, mais os colaboradores tendem a adotar o quiet quitting como mecanismo de defesa, o que compromete a saúde organizacional e dificulta a construção de um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
O grande desafio, nesse contexto, é transformar o quiet hiring em uma estratégia que represente uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento profissional, e não uma forma velada de exploração.
Para isso, é fundamental que as empresas adotem práticas transparentes e éticas, oferecendo capacitação adequada, reconhecimento formal e compensações justas aos colaboradores que assumem novas responsabilidades.
Quando bem conduzido, o quiet hiring pode fortalecer a retenção de talentos e estimular a evolução interna; porém, sem esses cuidados, corre-se o risco de promover apenas uma redistribuição sobrecarregada de tarefas, aprofundando a insatisfação e alimentando o ciclo de desmotivação associado ao quiet quitting.
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Por que as empresas devem ficar atentas?
É essencial que as empresas se atentem aos fenômenos do quiet hiring e quiet quitting porque eles expõem falhas estruturais na comunicação e na gestão das organizações. A relação entre empregador e empregado deve ser revista, especialmente no que diz respeito à clareza das expectativas e às oportunidades reais de desenvolvimento de carreira.
Quando um lado reduz seu envolvimento e expectativa, enquanto o outro aumenta suas exigências sem oferecer suporte proporcional, cria-se um ambiente propício à frustração, queda de performance e, consequentemente, ao aumento das taxas de turnover (indicador de rotatividade de funcionários) das organizações.
Além disso, esse desequilíbrio impacta diretamente a saúde mental dos colaboradores e gestores, elevando os índices de burnout, estresse e ansiedade no contexto corporativo. O acúmulo de demandas das equipes gera uma sensação de insatisfação, prejudicando diretamente o clima organizacional.
A redução nas contratações externas, resultado do quiet hiring, também pode comprometer a diversidade dentro das empresas, limitando a entrada de novos perfis, ideias e experiências que são essenciais para a inovação e o crescimento sustentável em mercados competitivos.
Cuidados essenciais ao adotar o Quiet Hiring
O quiet hiring vem ganhando destaque como uma forma prática das empresas valorizarem e aproveitarem os talentos que já fazem parte do time. Além de ajudar a responder rápido às mudanças do mercado, essa estratégia ainda pode diminuir os custos e a burocracia que vêm junto com a contratação de pessoas novas.
Uma pesquisa da Microsoft de 2022 mostrou que 65% dos brasileiros ficariam mais tempo numa empresa se tivessem mais chances de mudar de área ou crescer internamente.
Além disso, 81% destacam que o apoio para aprendizado e desenvolvimento é um fator importante para continuar no emprego, enquanto 87% acreditam que a capacitação é essencial para manter a posição.
Portanto, o sucesso do quiet hiring depende de uma combinação cuidadosa entre investir em treinamento, reconhecer e remunerar de forma justa os colaboradores, sempre atento às necessidades e limitações individuais e coletivas. Assim, as empresas conseguem não só reter talentos, mas também criar um ambiente de trabalho mais produtivo.
Dessa forma, embora o quiet hiring possa ser uma ferramenta estratégica poderosa, sua aplicação requer atenção para conciliar a necessidade organizacional e o respeito aos limites, expectativas e capacidades dos colaboradores.
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Reflexão Final
O quiet hiring não deve ser encarado apenas como uma solução rápida para economizar recursos, mas sim como uma estratégia consciente de gestão de pessoas, que valoriza a mobilidade interna, investe no desenvolvimento de talentos e promove um ambiente saudável e transparente.
Empresas que souberem equilibrar suas necessidades com o bem-estar de seus colaboradores poderão transformar o quiet hiring em uma vantagem competitiva, enquanto aquelas que utilizarem a prática de forma desestruturada correm o risco de intensificar a insatisfação e perderem seus melhores profissionais.
