Engana-se quem pensa que redes sociais como o TikTok servem apenas para trazer tendências e informações do entretenimento. Essas plataformas também são utilizadas para fomentar debates sobre assuntos pertinentes do mercado de trabalho. A bola da vez é o quiet quitting, um movimento que chama a atenção de trabalhadores e empresas devido ao impacto que pode causar nessa relação.
Acredita-se que o termo seja de origem norte-americana e tenha atingido a popularidade entre a geração Z durante a pandemia de Covid-19. Em linhas gerais, o quiet quitting ou “demissão silenciosa” discute a medida ideal entre o trabalho e a vida pessoal. A expressão refere-se ao ato de cumprir somente as atividades descritas em contrato, evitando assumir tarefas extras ou longas jornadas.
De acordo com uma pesquisa realizada pela multinacional brasileira de consultoria EDC Group, os adeptos a esse movimento são, em sua maioria, homens (67%), assistentes ou analistas (54%). Um terço deles tem entre 25 e 34 anos, o que mostra que a tendência não é seguida só pelos que acabaram de entrar no mercado de trabalho.
A popularidade do movimento traz aos empregadores a necessidade de revisitar crenças, hábitos e estratégias antigas no dia a dia corporativo. Um dos riscos do quite quitting para a empresa é o baixo pertencimento corporativo. Um dos aspectos que pode ajudar é a implementação de medidas motivacionais que aumentem o bem-estar dos funcionários, como a organização empresarial e a disponibilização de benefícios como vale-alimentação.
O que é quiet quitting?
O quiet quitting é uma maneira que os trabalhadores encontraram para colocar limites aos desgastes que comprometem a saúde por conta de uma dedicação excessiva que pode não ser vantajosa em determinadas condições de trabalho e de acordo com os salários oferecidos.
Adeptos do movimento consideram que muitos profissionais acabam trabalhando horas a mais, o que gera uma sobrecarga que ocasiona danos à saúde física e mental, afetando, inclusive, as entregas das atividades laborais. Diante do problema, o objetivo principal do quiet quitting seria evitar desgastes emocionais e até mesmo o burnout.
Trabalhadores com esse perfil costumam se desligar completamente de suas preocupações com o trabalho quando finalizam a carga horária e podem descansar e realizar suas atividades pessoais sem pensar nas atividades corporativas.
Causas do quiet quitting
O quiet quitting é um movimento que pode auxiliar os colaboradores em relação à proteção de sua própria saúde mental, mas essa prática também pode comprometer a relação entre funcionário e empregador, ocasionando em falta de produtividade no trabalho e até mesmo demissões.
É importante que os líderes de empresas tenham em mente que essa demissão silenciosa não é ocasionada apenas por um fator e, sim, por um conjunto de ações que favorecem o desgaste da relação do colaborador com o seu trabalho.
Quando uma empresa apresenta, por exemplo, um ambiente organizacional ruim, sem transparência com a equipe e com uma cultura que não condiz com os valores do profissional, a motivação para trabalhar pode ser comprometida e gerar o quiet quitting.
Um estudo realizado pela Harvard Business Review identificou que chefes mais despreparados costumam ter de três a quatro vezes mais colaboradores que praticam quiet quitting quando comparados a chefes eficientes.
Os salários baixos também são um dos pontos que favorecem a prática da demissão silenciosa. Isso porque os adeptos da prática consideram que trabalham muito por uma remuneração pequena, ou seja, que não se sentem devidamente valorizados. O pensamento é o mesmo para a ausência de benefícios como vale-alimentação, vale-refeição, plano de saúde, odontológico, seguro de vida, etc.
Somados a esses fatores estão a falta de reconhecimento e a sobrecarga de trabalho. No ambiente corporativo, muitos colaboradores dedicam-se às empresas em que atuam, sugerindo ideias e participando ativamente do crescimento organizacional. No entanto, quando a recompensa não caminha junto à proatividade, muitos tendem a aderir ao quiet quitting.
A sobrecarga de trabalho segue a mesma linha. Quando os funcionários percebem que estão realizando tarefas de três ou quatro pessoas, trabalhando mais do que deveriam e sem salário ou reconhecimento adequado, a demissão silenciosa costuma aparecer.
Como evitar que o quiet quitting afete a empresa e os colaboradores
As causas citadas acima são um norte para que empregadores evitem o surgimento do quiet quitting em suas empresas. Funcionários que aderem a esse movimento geralmente estão descontentes com o ambiente ou as condições de trabalho. Dessa forma, cabe aos líderes avaliarem como podem promover bem-estar e valorizar a equipe.
Num primeiro momento, é importante identificar os pontos de melhoria e rever a cultura organizacional atual. A partir dessa análise, é possível cuidar do ambiente de trabalho e buscar por ações benéficas à saúde mental dos colaboradores.
Pode ser interessante implementar novos benefícios, investir em plataformas e reajustar os salários. Nesse momento, é essencial que a empresa alinhe essas iniciativas ao setor financeiro para que as ações não causem prejuízos. Se for preciso, as mudanças podem ser implementadas gradualmente.
Ser transparente em reuniões, dar feedbacks sobre o trabalho, oferecer suporte e tentar encontrar soluções para motivar a equipe também podem ajudar nesse momento. Além disso, é importante que os empregadores controlem o nível de tarefa dos funcionários, evitando sobrecarga e acúmulos de funções.
Empresas que observam o comportamento de sua equipe tendem a sofrer menos com as demissões silenciosas, já que os empregados valorizam líderes que possuem um olhar mais atento às pessoas.