A saúde mental tem se consolidado como uma das principais preocupações entre os brasileiros, especialmente no que tange ao ambiente do trabalho.
No país, estima-se que 95% dos profissionais consideram o bem-estar tão importante quanto o salário, o que evidencia a necessidade urgente de debatermos essa temática de forma mais ampla e estratégica.
Fatores como sobrecarga de demandas, a pressão constante por resultados e realidades empresariais pouco acolhedoras e com baixa remuneração contribuem significativamente para a elevação dos índices de estresse e ansiedade entre os trabalhadores.
Uma pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo revelou que 1 a cada 5 profissionais de grandes corporações sofre de esgotamento, um dado alarmante que reforça a gravidade da situação.
Esse cenário não afeta apenas a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também gera prejuízos para as empresas, como o aumento do absenteísmo (faltas excessivas) e a queda de produtividade.
Assim, é fundamental compreender as diversas manifestações do adoecimento mental associadas ao trabalho. Entre as mais comuns, destaca-se o burnout e suas variações.
Continue a leitura para conhecer melhor cada síndrome, suas particularidades e as estratégias para prevenção!

O que é Burnout?
O conceito de Burnout foi introduzido na década de 1970 pelo psicanalista Herbert Freudenberger, com objetivo de nomear o esgotamento físico e mental vivenciado pelos trabalhadores da área da saúde.
Hoje, os sintomas associados ao Burnout estão presentes em diversas áreas e profissões. As pesquisas sobre o tema, por sua vez, reúnem diferentes campos de estudo, com uma abordagem multidisciplinar.
Uma dessas investigações, conhecida como Inventário de Burnout de Maslach (MBI), identificou que a síndrome é composta por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal.
A exaustão emocional corresponde à sensação de esgotamento físico e mental. A despersonalização refere-se a reações negativas ou de distanciamento em relação às pessoas do ambiente de trabalho. Já a diminuição da realização pessoal está associada a sentimentos de incompetência e à percepção de perda de produtividade.
No Brasil, cerca de 30% das pessoas ocupadas sofrem com a síndrome de Burnout, conforme dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Devido à sua proporção, o burnout foi incluído na lista de doenças ocupacionais, reconhecida pela Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde.
Sintomas do Burnout
A síndrome de Burnout é definida por uma série de sintomas físicos e psicológicos. Veja os principais:
- Dores de cabeça frequente
- Cansaço intenso (físico e mental)
- Mudanças no apetite (perder a fome ou comer muito de repente)
- Isolamento social
- Distúrbios do sono (insônia ou sono excessivo)
- Alteração nos batimentos cardíacos (taquicardia)
- Pressão alta
- Dores no corpo mesmo sem atividade física recente
- Variações repentinas de humor
- Sensação de fracasso e desesperança
- Sentir que não está dando conta ou que tudo está difícil
- Produtividade no trabalho ou estudos caindo
- Falhas na memória
- Estresse elevado e irritabilidade com colegas e familiares
- Problemas gastrointestinais
Esses sintomas geralmente começam de forma leve e vão piorando com o tempo, fazendo com que muitos profissionais pensem que é algo passageiro. No entanto, é muito importante procurar ajuda médica ao perceber esses sinais combinados, pois podem indicar a Síndrome de Burnout.
O que é Burn On?
O conceito de Burn On surgiu mais recentemente, ampliando as discussões sobre a síndrome de burnout. Embora ambos compartilhem sintomas como exaustão, desmotivação e sofrimento emocional, o Burn On se distingue por ser uma condição crônica, funcionando como uma espécie de depressão disfarçada.
Segundo os criadores do termo, o psiquiatra Timo Schiele e o psicoterapeuta Dr. Bert te Wildt, quem convive com o burnon segue sendo produtivo e dedicado ao trabalho, mas, por dentro, enfrenta um esgotamento profundo, que muitas vezes é negado ou invisibilizado.
Esse estado é comum em profissionais sem horário fixo e em ambientes que exigem alta produtividade e disponibilidade. Jornadas longas, excesso de horas extras e dificuldade para se desligar do trabalho contribuem para o desenvolvimento do Burn On.
Esse quadro revela como a cultura contemporânea, focada no desempenho e na alta performance, pode transformar o próprio trabalho em um fator de adoecimento.
Muitas vezes, a pessoa não percebe ou não admite que está vivendo um processo de desgaste, causado pela dificuldade de estabelecer limites saudáveis entre a vida profissional e pessoal.
Sintomas do Burn On
Assim como o Burnout, os sintomas podem aparecer no corpo, mas geralmente se refletem mais no bem-estar emocional e mental. Confira alguns sinais comuns:
- Sentimentos de culpa e vergonha
- Perfeccionismo nas demandas do trabalho
- Dificuldade em conciliar vida privada e profissional
- Negligência de necessidades pessoais
- Realização de tarefas de modo automático
- Perda da criatividade
- Vazio interior
- Sensação de que nunca faz o suficiente
- Falta de concentração
- Dificuldade em dizer “não” no ambiente profissional
- Exaustão emocional constante
O Burn On pode causar ansiedade e depressão crônica, problemas para dormir e, no caso de continuar sem cuidados, burnout.
O que é Boreout?
Enquanto o Burnout acontece por causa do excesso de tarefas e cobranças, o Boreout aparece justamente pela falta de estímulos e desafios no trabalho. O termo foi criado em 2007 por dois consultores suíços para descrever um estado de cansaço emocional e físico causado pela rotina repetitiva, pela ausência de atividades interessantes e pela falta de motivação no dia a dia profissional.
Inicialmente, o Boreout estava ligado a funções monótonas, como nas linhas de produção, ou a cargos onde as pessoas se sentem desvalorizadas, pouco reconhecidas ou fazendo algo que não faz sentido para elas.
Esse cenário gera tédio, falta de ânimo e frustração, que podem afetar não só a saúde mental, mas também o bem-estar e a produtividade. Além disso, com o tempo, pode prejudicar a confiança e o crescimento na carreira, já que a pessoa passa a se sentir cada vez mais desconectada do próprio trabalho.
Sintomas do Boreout
O Boreout, ao contrário da Síndrome de Burnout, não é classificado como uma doença. Seus sintomas, portanto, estão mais relacionados à vivência profissional, expressando-se principalmente através de:
- Distanciamento das atividades do trabalho
- Desinteresse pelo ambiente corporativo
- Irritabilidade e mau-humor frequente
- Angústia recorrente
- Falta de perspectiva ou motivação para o crescimento profissional
- Esses sinais indicam a necessidade de atenção às condições de trabalho para evitar a desmotivação e a insatisfação profissional.
Veja também: Como os empreendedores podem melhorar sua saúde e produtividade?
Tratamento
O tratamento dessas três condições precisa levar em conta as diferenças entre elas, mas o objetivo é sempre o mesmo: ajudar a pessoa a recuperar o equilíbrio emocional, se sentir bem e ter mais qualidade de vida no trabalho e fora dele.
Burnout
Quem está vivendo um quadro de Burnout precisa, antes de tudo, desacelerar. O esgotamento é tão grande que o corpo e a mente pedem socorro. Algumas atitudes importantes nesse processo são:
- Praticar atividades físicas para liberar o estresse e melhorar o humor.
- Fazer terapia, que ajuda a entender os gatilhos, lidar com as emoções e encontrar novos caminhos.
- Reduzir a carga de trabalho e reorganizar as tarefas, para evitar a sobrecarga.
- Em alguns casos, contar com acompanhamento médico, que pode indicar medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos, dependendo da gravidade.
- Buscar momentos de lazer e descanso.
Burn On
No caso do Burn On, o problema é um pouco diferente: a pessoa está sempre ligada no modo “alta performance”, mas por dentro vai se desgastando aos poucos. O tratamento passa por:
- Fazer terapia, para ajudar a perceber quando é hora de dizer “não” e estabelecer limites saudáveis.
- Aprender técnicas para gerenciar o estresse.
- Investir em autocuidado: dormir bem, ter uma alimentação equilibrada, praticar esportes e relaxar.
- Separar um tempinho na agenda para fazer o que gosta, como hobbies, encontros com amigos, passeios...
- Repensar a relação com o trabalho, entendendo que produtividade não é tudo e que o descanso é fundamental.
Boreout
Já o Boreout é o extremo oposto: aqui, o problema não é excesso, mas a falta de motivação. O dia a dia vira um tédio só. O que pode ajudar nesses casos:
- Buscar novas tarefas que sejam mais interessantes e desafiadoras.
- Investir em cursos e aprendizados que estimulem o crescimento e tragam novas perspectivas.
- Tentar identificar o que está causando insatisfação, tanto no trabalho quanto fora dele. E, se for o caso, buscar apoio terapêutico.
- Conversar com a liderança, expondo o que está incomodando e buscando soluções em conjunto.
No fim das contas, em todos esses quadros, o mais importante é lembrar que ninguém precisa lidar com isso sozinho. Procurar ajuda profissional e falar sobre o que está sentindo são passos essenciais para virar esse jogo e reconquistar o bem-estar.
Como as empresas podem prevenir Burnout, Burn On e Boreout?
Não dá mais para ignorar: cuidar da saúde mental dos colaboradores é uma necessidade. Criar um ambiente saudável, estimulante e equilibrado é o caminho. Aqui vão algumas estratégias importantes:
- Oferecer uma boa carteira de benefícios, incluindo plano de saúde e programas de bem-estar físico e mental.
- Estimular o crescimento profissional, com planos de carreira, feedbacks e reconhecimento.
- Investir em cursos e treinamentos, mantendo a equipe motivada e em constante desenvolvimento.
- Estabelecer prazos realistas, evitando sobrecarga e estresse desnecessário.
- Incentivar pausas e momentos de desconexão, promovendo o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
- Promover uma cultura de diálogo, com canais abertos para escuta e acolhimento.
- Flexibilizar rotinas, sempre que possível, para reduzir o estresse e aumentar a satisfação.
Com o apoio de lideranças atentas e do profissional de Recursos Humanos, essas ações ajudam a prevenir o desgaste emocional, promovendo um ambiente mais saudável, engajado e produtivo.
Conclusão
Cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho é fundamental para prevenir o desgaste emocional e evitar síndromes como Burnout, Burn On e Boreout.
Promover um ambiente equilibrado, com espaço para o desenvolvimento, qualidade de vida e diálogo, beneficia não só os colaboradores, mas também a produtividade e a sustentabilidade da empresa a longo prazo.
