Com a agenda de meio ambiente ganhando cada vez mais destaque, surgem algumas dúvidas em relação às dinâmicas dessa problemática. O mercado de crédito de carbono, por exemplo, é um tópico muito importante e requer atenção.
A projeção para o ano de 2023 era a emissão de aproximadamente 36,8 bilhões de toneladas - um aumento de 1,1% em relação a 2022 - de gás carbônico na atmosfera. De acordo com diversos especialistas e estudiosos sobre o clima, sabe-se que este gás é um dos principais poluentes que prejudicam o meio ambiente e a vida do ser humano no planeta.
Pensando nisso, trouxemos um material completo para te deixar por dentro do funcionamento desse mercado, bem como suas dinâmicas, participantes e falhas. Confira mais nos tópicos abaixo.
O que são créditos de carbono?
Os créditos de carbono são licenças negociáveis que permitem que as empresas emitam uma certa quantidade de dióxido de carbono ou outros gases de efeito estufa. Cada crédito representa uma tonelada de emissões de dióxido de carbono que uma empresa pagou para evitar entrar na atmosfera.
Os créditos de carbono foram criados como um sistema baseado no mercado para colocar um preço na emissão de carbono e incentivar as empresas a reduzir sua pegada de carbono. Governos e reguladores emitem um número limitado de créditos de carbono e estabelecem um limite para as emissões totais.
As empresas podem reduzir suas próprias emissões para cumprir o limite ou podem comprar créditos extras de empresas mais verdes que emitiram menos do que sua licença. Isso cria um incentivo financeiro para se tornar mais eficiente em termos energéticos e adotar tecnologias mais limpas.
Quando uma empresa investe em um projeto de redução de emissões, como energia renovável ou reflorestamento, ela pode ganhar créditos de carbono certificados pela quantidade de emissões evitadas.
A cada crédito é atribuído um número de identificação para que possa ser negociado nos mercados de carbono. Os créditos são emitidos e rastreados pelos reguladores para evitar duplicação ou dupla contagem.
Os créditos de carbono mais utilizados são as Reduções Certificadas de Emissões (RCEs) geradas a partir de projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU.
Em resumo, os créditos de carbono criam um sinal de mercado e preço para as emissões de gases de efeito estufa, fornecendo incentivos financeiros para que as empresas poluam menos. O sistema de comércio visa alcançar reduções de emissões da forma mais rentável possível em toda a economia.
Por que foram criados os créditos de carbono?
O conceito surgiu a partir do Protocolo de Kyoto de 1997, tratado internacional que estabeleceu metas vinculantes de redução de emissões para países desenvolvidos.
O Protocolo de Kyoto estabeleceu três mecanismos baseados no mercado que os signatários poderiam utilizar para cumprir as suas metas de emissões:
- Comércio de Emissões - Os países poderiam negociar créditos de emissões para contabilizar o excesso ou o não cumprimento de suas metas. Isso permitiu que as reduções de emissões ocorressem onde fosse mais rentável.
- Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - Os países desenvolvidos poderiam financiar projetos de redução de emissões em países em desenvolvimento e receber créditos de Redução Certificada de Emissões (RCE) para contar para suas próprias metas. O objetivo era promover o desenvolvimento sustentável e a transferência de tecnologia para as nações em desenvolvimento.
- Implementação Conjunta (IC) - Os países poderiam colaborar em projetos e compartilhar os créditos de emissões das reduções resultantes. O objectivo era encontrar as reduções mais eficazes em termos de custos além-fronteiras.
Ao transformar as emissões em uma commodity que poderia ser negociada, comprada e vendida, as forças de mercado orientariam o investimento em tecnologias, processos e infraestrutura mais limpos.
Cada crédito representa uma tonelada métrica de CO2 ou outro gás de efeito estufa que foi impedido de ser lançado na atmosfera (por meio de um projeto de redução de emissões) ou removido da atmosfera (por meio de sequestro).
Ao criar incentivos econômicos para a redução de emissões e viabilizar um mercado global, os créditos de carbono visam impulsionar ações econômicas na mitigação das mudanças climáticas. A abordagem baseada no mercado foi vista como uma solução inovadora para enfrentar o desafio das emissões globais.
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Como os créditos de carbono reduzem as emissões?
Os créditos de carbono visam reduzir as emissões por meio do uso de sistemas de "cap and trade" fornecendo às empresas e indivíduos uma maneira de compensar suas próprias emissões.
Em um sistema de cap and trade, os governos estabelecem um limite legal geral para as emissões e, em seguida, emitem créditos de carbono até esse limite. As empresas podem comprar e vender esses créditos com base em suas necessidades.
As empresas podem optar por poluir menos e vender seus créditos extras, ou poluir mais e comprar mais créditos. De qualquer forma, as emissões gerais permanecem dentro do limite designado.
Os créditos de carbono também permitem que empresas e indivíduos compensem suas emissões investindo em projetos ambientais em todo o mundo que reduzam os gases de efeito estufa.
Por exemplo, projetos que apoiam a produção de energia renovável ou protegem florestas tropicais podem ganhar créditos de carbono certificados. Esses créditos podem ser vendidos a compradores que desejam equilibrar suas próprias pegadas de carbono apoiando iniciativas de sustentabilidade.
Os críticos argumentam, no entanto, que os créditos de carbono às vezes recompensam as práticas habituais ou não têm rigor na verificação de reduções no mundo real. Os defensores argumentam que os créditos de carbono ainda podem desempenhar um papel importante para empurrar a sociedade para um futuro de baixo carbono.
Quem compra e vende créditos de carbono?
Os créditos de carbono são negociados nos mercados voluntário e de compliance por diversas entidades:
Empresas
Tanto as empresas emissoras quanto as empresas não emissoras compram créditos. As empresas emissoras compram créditos para cumprir os limites dos programas de cap-and-trade. Empresas não emissoras compram créditos para compensar suas emissões ou cumprir metas de carbono neutro ou líquido zero. Muitas grandes corporações como Microsoft, Google e Amazon compram créditos como parte de suas estratégias de redução de emissões.
Governos
Os governos participam dos mercados de carbono para cumprir as metas nacionais de redução de emissões sob acordos climáticos como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. Governos com programas de cap-and-trade vendem e compram créditos para facilitar a conformidade. Os governos podem comprar créditos para atingir metas de neutralidade para operações públicas.
Corretoras e exchanges
As corretoras de carbono conectam compradores e vendedores de créditos por uma comissão. Eles próprios não se apropriam dos créditos. As bolsas oferecem um mercado onde os créditos podem ser negociados facilmente. Algumas das principais bolsas incluem a European Climate Exchange e a Chicago Climate Exchange.
Indivíduos
Indivíduos e famílias podemcomprar compensações de carbono de forma voluntária para mitigar suas pegadas de carbono pessoais. Muitas companhias aéreas e sites de reserva de viagens também permitem que os clientes contribuam para compensações ao reservar voos e hotéis.
Organizações sem fins lucrativos e ONGs
Organizações sem fins lucrativos ambientais e outras ONGs participam do mercado de crédito voluntário. Eles geralmente compram créditos e os retiram em nome de doadores e apoiadores para impulsionar a redução de emissões.
Assim, em resumo, os mercados de carbono envolvem uma mistura diversificada de participantes corporativos, governamentais, financeiros, sem fins lucrativos e individuais, tanto do lado da compra quanto da venda. Cada tipo de entidade atua no mercado por diferentes razões que se alinham com seus interesses e objetivos particulares.
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Quais projetos geram créditos de carbono?
Os créditos de carbono são gerados por projetos que reduzem, evitam ou capturam emissões de gases de efeito estufa. Alguns dos tipos mais comuns de projetos que criam créditos de carbono incluem:
Energia renovável
Projetos de energia renovável como solar, eólica, geotérmica e hidrelétrica geram créditos de carbono ao deslocar fontes de energia de combustíveis fósseis.
A construção de um novo parque eólico ou usina solar que alimente eletricidade com emissão zero na rede pode ganhar créditos de carbono negociáveis. Esses projetos ajudam a reduzir as emissões gerais da queima de carvão, gás natural e outros combustíveis intensivos em carbono.
Reflorestação
Os projetos de plantio de árvores sequestram dióxido de carbono da atmosfera à medida que as árvores crescem, criando créditos de carbono no processo. Os projetos de reflorestamento podem envolver a restauração de florestas nativas ou o cultivo de plantações sustentáveis de espécies arbóreas nativas. A absorção de carbono das novas árvores é calculada em relação a uma linha de base normal.
Captura de metano
Projetos de captura de metano em aterros sanitários evitam emissões potentes de metano de resíduos orgânicos em decomposição. O metano tem mais de 80 vezes o potencial de aquecimento global do dióxido de carbono em um período de 20 anos.
Os sistemas de captura de metano permitem que o gás de aterro seja queimado ou usado para geração de energia, convertendo o metano em dióxido de carbono menos potente. Essa redução nas emissões gera créditos de carbono.
Eficiência Energética
Projetos de eficiência energética, como a substituição de lâmpadas incandescentes por LEDs ou a atualização de equipamentos industriais antigos para modelos mais eficientes, também produzem créditos de carbono.
Ao reduzir o consumo de energia, esses projetos evitam o uso de combustíveis fósseis e reduzem as emissões de dióxido de carbono. As economias de emissões são creditadas e podem ser negociadas nos mercados de carbono.
Quais são as críticas e preocupações?
Embora os créditos de carbono tenham se tornado uma maneira popular de reduzir as emissões, eles também enfrentam críticas sobre sua eficácia. Aqui estão algumas das principais preocupações:
Eficácia
- Os críticos argumentam que os créditos de carbono não garantem reduções reais de emissões. Os créditos fornecem às empresas uma licença para continuar poluindo em seus níveis atuais, enquanto pagam por reduções teóricas em outros lugares.
- Há um debate sobre se os projetos de redução de carbono teriam acontecido de qualquer maneira sem os fundos de crédito. Se assim for, os créditos não estão adicionando nenhuma redução extra de emissões.
- Mesmo quando os projetos são adicionais, a quantidade real de dióxido de carbono reduzida pode ser difícil de medir e verificar com precisão.
Compensações não equivalem a reduções reais
- Os créditos de carbono permitem que as empresas comprem compensações para suas próprias emissões, em vez de reduzir diretamente suas próprias emissões. Isso significa que os créditos não necessariamente diminuem as emissões globais.
- Alguns veem as compensações como semelhantes a indulgências, onde as empresas podem pagar para continuar poluindo em níveis elevados em vez de mudar fundamentalmente suas práticas.
Questões contábeis
- Houve casos de linhas de base mal calculadas ou dupla contagem, prejudicando a integridade de alguns créditos.
- Se os créditos têm uma vida útil e podem expirar, a contabilidade deve rastrear adequadamente as safras e evitar a revenda de créditos vencidos.
O mercado de crédito de carbono
O mercado de crédito de carbono cresceu rapidamente na última década e se tornou uma indústria multibilionária. As principais bolsas de carbono incluem a European Climate Exchange, a Chicago Climate Exchange e a European Energy Exchange.
Os dois principais tipos de créditos de carbono negociados são os créditos voluntários e os créditos de conformidade.
Os créditos de conformidade são comprados por empresas e governos para cumprir as metas de redução de emissões exigidas pela regulamentação, como programas de cap-and-trade.
Os créditos voluntários são comprados por indivíduos e empresas para compensar suas emissões como parte de programas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade.
Os preços dos créditos de carbono flutuam com base na dinâmica da oferta e da demanda. Nos mercados de conformidade, os preços são em grande parte determinados pelo limite de emissões estabelecido pelos reguladores.
Nos mercados voluntários, fatores como a qualidade percebida e a publicidade em torno das mudanças climáticas impactam os preços.
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O futuro dos créditos de carbono
Os créditos de carbono continuarão a desempenhar um papel importante no combate às alterações climáticas nos próximos anos. À medida que mais países implementam sistemas de cap-and-trade e mecanismos de precificação de carbono, espera-se que a demanda por créditos aumente significativamente.
Muitos especialistas argumentam que a regulação e padronização do mercado voluntário de carbono é necessária para que ele atinja todo o seu potencial. Há apelos para metodologias de verificação mais robustas para garantir a integridade ambiental dos projetos de compensação de carbono.
No futuro, os créditos de carbono provavelmente evoluirão de um instrumento de nicho para uma ferramenta integral para a descarbonização em toda a economia mundial. Mas, para que todo o seu potencial seja realizado, é necessário mais trabalho para melhorar as normas contábeis, os procedimentos de verificação e a transparência.